O Santuário Nacional de Aparecida celebrará, em 2017, os 300 anos do encontro da imagem de Nossa Senhora, no Rio Paraíba, por três pescadores. Para lembrar a importância desse Santuário, basta destacar que, anualmente, mais de 12 milhões de peregrinos o visitam.
Convidado a presidir a missa solene na festa do dia 12 passado, comecei minha homilia lembrando a observação de S. João, no último livro da Bíblia: “Um grande sinal apareceu no céu” (Ap 12,1). Ora, um sinal é, normalmente, uma indicação de Deus; é uma expressão de sua bondade e misericórdia. Quando Deus nos dá um sinal, precisamos ficar atentos: Ele está querendo direcionar o nosso olhar para alguma pessoa ou coisa importante. Que sinal é esse que apareceu no céu? O apóstolo e evangelista João nos explica: “uma mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo dos pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas”. Essa mulher é a Igreja, o povo de Deus que estava sendo perseguido e martirizado no começo do primeiro século da era cristã. Mas como não ver nesse sinal, nessa mulher, também a Mãe de Jesus? Afinal, foi Maria que “deu à luz um filho homem que veio para governar todas as nações” (Ap 12,5).
Maria, o grande sinal que apareceu no céu, direciona o nosso olhar para Jesus. É para ele, pois, que devemos voltar a nossa atenção. A Igreja existe para nos apontar Jesus. Ele está no centro de tudo o que a Igreja planeja e faz. Ele está no centro da própria vida da Igreja. Ele é a fonte de tudo o que a Igreja tem.
Na preparação da festa dos 300 anos do encontro da imagem de Aparecida, somos convidados a cultivar três verbos: testemunhar, acolher e entregar-se.
Testemunhar. Há os que se dirigem a Aparecida em busca de milagres; não poucos os recebem. A maioria, contudo, volta para casa testemunhando um outro milagre: o da transformação do próprio coração. Em seu coração passa a brilhar uma pequena chama de esperança, de compaixão e de ternura. Tendo tomado consciência da necessidade de viverem como filhos e filhas da luz, esses romeiros passam a ser testemunhas da luz que é Jesus Cristo.
Acolher. Diariamente, milhões de brasileiros, com simplicidade e fervor, voltam seu olhar para a Mãe de Jesus, a Senhora Aparecida. Ela está presente num cenáculo que tem o tamanho do Brasil. Muitas das intenções que seus filhos e filhas colocam em seu coração materno têm a marca do sofrimento. Pensemos na violência, no medo, na incerteza quanto ao dia de amanhã; pensemos nos injustiçados, nos que vivem problemas familiares e nos que sofrem em consequência do desemprego, de doença, de enfermidade, de solidão, dos desafios, por serem migrantes; pensemos nos que sofrem por causa do nome de Cristo… Tudo isso é apresentado a Maria, como a lhe lembrar: Mãe, nós não temos vinho! Falta-nos, muitas vezes, a alegria; nossa festa está ameaçada. Além de nos ouvir e de apresentar nossas intenções a seu Filho, a Mãe Aparecida nos ensina que nossa oração tem seu ponto alto quando nela acolhemos os que sofrem. Olhando para o mundo e, particularmente, para o nosso país, com a Senhora Aparecida e como ela, tendo constatado a própria impotência, devemos dizer a Jesus: “Eles não têm mais vinho!”
Entregar-se. Neste Santuário, transparece a misericórdia divina. Nossa Senhora Aparecida nos lembra o quanto somos amados por Deus. Ela nos recorda que o Senhor jamais nos abandona; que nenhum de nós é por Ele esquecido. Ao contrário: Deus pousa o seu olhar de amor sobre nós e nos chama à vida, à vida envolvida pela alegria e pela paz. Entregar-se a Deus é encontrar o caminho da verdadeira liberdade; voltar-se para Ele é dar um sentido para a nossa própria vida.
Dom Murilo S.R. Krieger, scj
Arcebispo de São Salvador da Bahia e Primaz do Brasil