A “Associação das Comunidades Paroquiais de Mata Escura e Calabetão” (Acopamec) está celebrando 25 anos de existência. Sua fundação pelo Conselho Pastoral da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, de Mata Escura – Salvador, foi uma resposta aos desafios enfrentados pela Pastoral da Criança e pela Pastoral do Menor que atuavam naquela comunidade. Essas pastorais se perguntavam: como proteger e educar as crianças e adolescentes que nos procuram?
Uma vez criada, tudo indicava que aquela associação paroquial seria mais uma obra social a dar assistência unicamente a um pequeno grupo. Foi quando aconteceu um fato que mudaria tudo: pela segunda vez, o Papa São João Paulo II visitou Salvador (1991). Dentre os encontros do Papa em nossa cidade, um teve um especial significado para ele: o encontro com crianças na Baixa do Bonfim. Suas palavras traduzem os sentimentos de seu coração ao vê-las, ouvi-las e abraçá-las: “Não pode nem deve haver crianças assassinadas, eliminadas sob pretexto de prevenção ao crime, marcadas para morrer! Em nome de Cristo, nosso Mestre e Senhor, convoco todos a trabalhar em favor da criança!”
Das palavras, o Papa passou a um gesto concreto. Pouco tempo antes de sua viagem ao Brasil, ele havia recebido uma condecoração de importância mundial: “Artífice da Paz”. Querendo, então, ajudar nossas crianças e adolescentes, ele repassou para o então Arcebispo de Salvador, o Cardeal Dom Lucas Moreira Neves, o cheque que havia recebido junto com a condecoração. Das mãos de Dom Lucas, o cheque passou para a Acopamec.
Mais do que uma grande quantia de dinheiro – oferta importantíssima para a construção do grande prédio que abriga, hoje, as diversas iniciativas dessa Associação -, o Papa deixou aqui sementes de uma cultura de paz, base de um trabalho educativo de qualidade. A Acopamec, que cresceu com a sua ajuda, assumiu o compromisso de promover uma educação fundamentada no respeito e no diálogo com todos. Desde a creche, as crianças são formadas nesse jeito de ser, abertas ao diferente, felizes por descobrirem o valor da convivência com as demais. É um processo educativo que continua na adolescência e na juventude, especialmente através de atividades de arte (música, dança, teatro) e de esportes. Reflete-se, também, nos conteúdos dos cursos profissionalizantes, que têm por finalidade dar muito mais do que uma formação técnica: ganham destaque a educação para a solidariedade, a construção de relações respeitosas entre pais e filhos, entre professores e alunos, entre a comunidade e a instituição. Busca-se dar, além disso, uma educação ecológica, na consciência de que todos habitam numa mesma Casa – a Terra -, que deve ser respeitada.
Tendo nascido no mesmo ano da promulgação do “Estatuto da Criança e do Adolescente”, a Acopamec tem promovido discussões e debates, para que os direitos preconizados neste Estatuto sejam realmente efetivados. Seus diretores sofrem ao constatar a orquestração feita para a redução da maioridade penal, de 18 para 16 anos, o que transferiria para os jovens a culpa pela escalada da violência no país. Defendem, inclusive, que é preciso ampliar os direitos dos mais frágeis, e não reduzi-los.
A proposta da Acopamec se fortalece na fé em um Deus que caminha junto ao Seu povo e que, em Jesus, revela seu carinho pelos que são excluídos e desrespeitados em sua dignidade humana. A Associação é envolvida por uma mística que tem como fundamento a justiça, o amor ao Reino de Deus e a certeza de que a vitória de Cristo Ressuscitado já se antecipa nas pequenas vitórias do público infanto-juvenil, testemunhadas na história de 25 anos da Acopamec.
Dom Murilo S.R. Krieger, scj
Arcebispo de São Salvador da Bahia e Primaz do Brasil