Ao tomar posse na Arquidiocese de São Salvador da Bahia (25.03.2011), exteriorizei os sentimentos experimentados semanas antes, quando me informaram que assumiria esta Igreja Particular que tem um nome que encerra um programa: Salvador. Disse, na posse: “Por ocasião do nascimento de Jesus, o anúncio dos anjos aos pastores centrou-se em uma certeza: ‘Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós o Salvador, que é o Cristo Senhor’ (Lc 2,11). (…) É com não pequena emoção que tomo posse como Arcebispo na cidade que, além de ser sede da primeira Diocese do Brasil, presta em seu nome uma homenagem a Jesus Cristo. Sim, o Filho de Deus é o nosso Salvador”.
A cidade de Salvador tem, pois, uma ligação profunda com a noite de Belém em que nasceu o Salvador. Mais do que outras, ela é, portanto, chamada a valorizar as festas de Natal. Para alegria minha, poucos meses após a minha posse, a Pastoral da Comunicação Arquidiocesana (Pascom), na época liderada pelo Pe. Manoel de Oliveira Filho, entendeu meus sonhos e os transformou num projeto concreto, que recebeu nome de “Salvador, cidade natal do Brasil”. O objetivo desse projeto era e é o de resgatar o autêntico espírito natalino, colocando o Menino Jesus (e não o Papai Noel!) no centro da festa.
Já naquele ano de 2011 foi instalado, na avenida Paralela, um Presépio Monumento; organizou-se um Concurso de Presépios; promoveu-se uma campanha de arrecadação de gêneros alimentícios para serem distribuídos entre famílias carentes e foram organizadas apresentações artísticas e culturais, sempre em torno do Menino Jesus. Nos anos seguintes, novas iniciativas surgiram – inclusive, com o apoio da Prefeitura de Salvador, que promoveu, no Dique de Tororó, uma belíssima encenação de Natal.
As iniciativas da Arquidiocese nesse campo querem ser, acima de tudo, motivadoras. O projeto “Salvador, cidade natal do Brasil” deve ser assumido por todos. Pela Prefeitura Municipal, que está demonstrando compreender que, tornando a cidade mais bela no Natal, deixa os que aqui vivem mais alegres e atrai um maior número de turistas. (O turismo não é, justamente, a vocação de Salvador?) O projeto em questão precisa bastante do apoio das associações da cidade e, particularmente, de suas lojas e shoppings, chamadas a valorizarem a confecção de presépios. É verdade que, do ponto de vista do marketing, a figura do Papai Noel pode parecer mais interessante. Não por acaso, quem o concebeu foram os donos de uma poderosa bebida norte-americana. É preciso criar nas novas gerações a consciência de que Jesus é o grande presente que o Pai nos dá no Natal. Em retribuição por esse gesto, nos alegramos e nos presenteamos.
Sonho com uma cidade de Salvador que preste, em cada Natal, uma grande homenagem àquele que lhe deu o nome. Sonho com uma cidade que se torne referência no país, quando se tratar do Natal. Sonho com um Natal que seja lembrado não só no interior das casas, com suas novenas, seus presépios e enfeites, mas lembrado por todos e em toda a parte. Experimentaremos, então, a realização das palavras que os anjos falaram aos pastores na noite de Belém: “Glória a Deus no mais alto dos céus, e na terra, paz aos que são do seu agrado” (Lc 2,14). Paz! Não é isso que todos desejam e buscam? Ela será uma realidade, quando tomarmos consciência de que, realmente, nasceu para nós o Salvador!
Proponho um grande mutirão em torno do Natal. Assim, poderemos dar a nossa colaboração para que o Natal seja mais valorizado em nossa cidade. Façamos nossa parte, para que todos se conscientizem de que esta festa tem um “dono”: o Salvador. O Brasil, um dia, nos agradecerá por isso.
Dom Murilo S.R. Krieger, scj
Arcebispo de São Salvador da Bahia e Primaz do Brasil