Dom Antonio Tourinho Neto

Bispo Diocesano de Cruz das Almas-BA

 

A Igreja do Brasil celebra, no período de 26 de novembro de 2017 a 25 de novembro de 2018, o Ano Nacional do Laicato. Com este evento a Igreja quer reafirmar a vocação dos cristãos leigos como dom para toda a comunidade eclesial.

Mas, quem são os cristãos leigos e leigas? O Documento 105 da CNBB (Cristãos Leigos e Leigas na Igreja e na Sociedade – “Sal da terra e Luz do mundo”) afirma que os leigos são aqueles que por causa dos sacramentos da iniciação cristã (Batismo, Crisma e Eucaristia), vivem em Cristo e O anuncia, isto é, testemunham Cristo na Comunidade Eclesial e no mundo.

Por isso, a Igreja sempre entendeu e valorizou a importância da vocação dos cristãos leigos. São eles, juntos aos ministros ordenados e com os fiéis de vida consagrada, sujeitos na missão da Igreja em propagar o Reino de Deus na face da terra.

Na comunidade cristã todos somos indispensáveis, pois fomos escolhidos pelo Pai, salvos em Jesus Cristo e ungidos e enviados pelo Espírito Santo.  Sem exceção (Ministros ordenados, fiéis de vida consagrada e fiéis leigos) somos partícipes da realidade eclesial de acordo com nosso estado de vida e com o ministério que nos foi confiado. É claro que o leigo não pode querer exercer o que é próprio do ministro ordenado, nem o ministro ordenado querer ocupar o lugar do leigo naquilo que lhe compete.

Como discípulo missionário, o lugar de evangelização do cristão leigo é o mundo. Ele é convocado pelo Espírito Santo a ser agente transformador da sociedade nas diversas situações e desafios. Para o cristão leigo, o mundo começa na família e é no seio dela que ele faz acontecer a sua vocação de apóstolo de Cristo. Depois, seu apostolado vai se alargando para a comunidade eclesial na qual ele professa a sua fé e se abre ainda mais no ambiente de trabalho, de lazer, de estudo, etc. Procurando transformar pela força da Palavra de Deus todos os ambientes, sempre sendo “luz para o mundo e sal para a terra”, isto é, gritando o Evangelho com o testemunho de vida.

O primeiro aspecto da identidade do cristão leigo, como dos cristãos em geral, é a nova vida em Cristo através do Sacramento do Batismo. Pelo Batismo, o leigo é mergulhado numa vida nova em Cristo, consequentemente morto para o pecado e nascido para Deus (cf.: Rm 6,11). A palavra chave para entender a Teologia do Batismo é “inserção”. O Batismo insere o fiel leigo em Cristo e São Paulo afirma que o inserido em Cristo é enxertado Nele. Tomemos o exemplo de uma planta, a que sofre o enxerto para viver da outra. Na vida nova dos cristãos o outro é Cristo, os cristãos são os novos ramos Nele. Então, este é o primeiro elemento dos fiéis leigos e leigas: Viver uma vida nova em Cristo.

O segundo aspecto da identidade laical origina-se do Sacramento da Confirmação ou Crisma. Qual a palavra chave deste Sacramento? O Ritual para este Sacramento afirma que “A Confirmação ou Crisma configura os cristãos a Cristo”. Configurar significa ser semelhante a Cristo. Na Teologia a característica principal de Jesus Cristo é ser Filho de Deus. Então, se no Batismo acontece a filiação divina por adoção, pelo Sacramento da Crisma o selo do Espírito Santo vem fortalecer o cristão para que este continue frutificando. O que na origem batismal foi um enxerto se transforma pela Crisma num ramo frondoso para gerar frutos em abundância para o proveito de toda a comunidade eclesial e da sociedade.

O terceiro aspecto da identidade do cristão leigo é oriundo da Eucaristia. Se a palavra chave do Batismo é “inserção”, da Crisma é “Configuração”, a palavra chave da Eucaristia é “imolação”, pois, a Eucaristia é sacrifício do Deus que se fez homem e se imolou no altar da cruz em sacrifício pela regeneração do gênero humano. Quem come deste Pão e bebe deste Vinho precisa desejar se imolar por amor ao próximo como Jesus assim o fez. Tem um cântico de comunhão que assinala muito bem o significado da Eucaristia para nós cristãos: “Só tem lugar nesta mesa pra quem ama e pede perdão, só comunga nesta ceia quem comunga na vida do irmão”.

Este ano o Papa Francisco lançou uma Exortação Apostólica ano intitulada Gaudete et Exsultate: “Alegrai-vos e Exultai” (Mt 5, 12). O Sumo Pontífice deseja que os cristãos se voltem para a vocação universal à santidade. Ele afirma que a santidade não é algo distante de nós, pelo contrário, está muito perto. “A santidade é o rosto mais belo da Igreja” (GE, n° 9).

Dirigindo-se aos leigos vocacionados ao Sagrado Matrimônio e a gerarem família, o Papa afirma “gostar de ver a santidade nos pais que criam os seus filhos com tanto amor, nos homens e nas mulheres que trabalham a fim de trazer o pão para casa” (GE, n°7), “nos avós que cuidam de orientar e introduzir os netinhos à fé já que os pais não têm muitas vezes tempo devido ao trabalho…” O Papa chama de santidade “ao pé da porta”, “daqueles que vivem perto de nós e são um reflexo da presença de Deus para nós” (GE, n° 7).

Espero que esta reflexão seja útil para que os cristãos leigos e leigas sintam-se incentivados a investirem cada vez mais em sua formação permanente e promovam o Reino de Deus nas diversas esferas da sociedade, pois a Igreja acredita e aposta naqueles que se esforçam para viverem a coerência do chamado a assumirem a responsabilidade de serem na comunidade eclesial e no mundo, “sal e luz”.

LITURGIA DIÁRIA