“A Igreja, ao ser enviada por Cristo ao mundo, como Ele foi enviado pelo Pai, ficou constituída em certo sentido, mediadora da redenção universal. Portanto, deve viver em contínua missão e é necessária para a salvação.”
Mediação de Cristo e mediação da Igreja. » Cristo é o único e perfeito mediador (1Tm 2,5). Mas quis associar, de alguma maneira a Igreja à sua mediação: A mediação da Igreja tem sua origem na de Cristo, do qual deriva e ao qual se subordina. Sem cristo, a mediação da Igreja perde sua razão de ser.

O dever missionário da Igreja : sua missão vem da Missão do Filho e da Missão do Espírito Santo segundo o desígnio do Pai. Será tanto mais fiel quanto mais se empenhar na Missão. Todos os que a integram estão obrigados a “missionar”.

Necessidade da Igreja para a salvação : “Extra Ecclesiam nulla salus” – Nos padres da Igreja, é clara a convicção de que fora da instituição da Igreja não há salvação. Santo Irineu afirma que “só na Igreja está o Espírito de Deus e toda a graça”(Adv. haer. III 24,1 – PL 7, 966). S. Agostinho – “fora da Igreja se encontra tudo, menos a salvação” (Sermo ad Caes.Eccl.pleb.,6 – PL 43,695).O contexto da afirmação é o de defesa da a mediação frente a quem livremente se separa da Igreja. Será Fulgêncio de Ruspe (468-553) quem vai universalizar a idéia, dando-lhe um caráter absoluto: os pagãos, os judeus, os hereges e cismáticos caem no fogo eterno. (De fide ad Petrum 38,79 – PL 65,704).

Os concílios medievais (Lateranense IV – DS 802, e Florença DS – 1351) vão assumir a idéia dos padres com o acento dado por Fulgêncio de Ruspe, no contexto de presunção de que nesse tempo, a Igreja já tinha chegado até os confins da Terra e que ninguém poderia alegar ignorância.

Numa linha mais aberta, o Vat. II, em Lumen Gentium 16, nos oferece algumas conclusões :

1)A condenação deve ser entendida para aqueles que não querem crer. Aqueles que, diante da pregação tomam livremente a posição de não crer.

2)Há salvação fora da Igreja para os crentes não cristãos que, seguindo sua consciência, buscam fazer a vontade de Deus e se esforçam para levar uma vida reta. Mesmo para os não crentes, o fato do esforço para a vida reta é oportunidade de salvação, pois Deus oferece a todos a oportunidade para salvar-se.

3)Essa Graça que Deus dá, quando não é conscientemente rejeitada, se relaciona com Cristo, pois tudo está orientado para Ele (Col 1,16).

4)Não é indiferente pertencer ou não à Igreja de Cristo. A consciência da necessidade do Batismo e da Igreja para a salvação e, ao mesmo tempo, que se possa salvar fora dela não nos deve levar ao relativismo.

Dom José Palmeira Lessa
Arcebispo de Aracaju

LITURGIA DIÁRIA