A canonização do Padre José de Anchieta, tão esperada pelo Brasil e concretizada  no dia 3 de abril último pelo Papa Francisco, é, para nós da Arquidiocese de São Salvador da Bahia, uma graça, um incentivo e uma responsabilidade.
A canonização do Padre Anchieta é uma graça – e que graça! A criação da  Diocese de Salvador, primeira do Brasil, e a vocação de José de Anchieta caminharam juntas. A  Diocese  havia sido criada há apenas dois anos antes da chegada do jovem noviço. Nascido nas Ilhas Canárias e atraído pelo carisma de Santo Inácio de Loyola, Anchieta queria ser missionário. O Brasil era um campo imenso de trabalho, aberto, pois, à sua paixão por Jesus Cristo.
A canonização do Padre Anchieta é um incentivo. Para seguir Jesus Cristo, somos ajudados por pessoas que nos comprovam que esse  seguimento é possível e é fonte de alegria. Quem nos ensinou isso foram os primeiros cristãos: perseguidos e ameaçados de morte por causa de seu Senhor, aceitaram dar a própria vida para testemunhar que seu Mestre é, realmente, “o caminho, a verdade e a vida”. O sangue dos mártires, no dizer de Tertuliano, tornou-se “semente de novos cristãos”. Por isso mesmo a Igreja sempre conservou e incentivou a lembrança de discípulos que, com sua vida, testemunharam o valor dos ideais cristãos.
As cartas do Padre Anchieta a seus Superiores testemunham que nele pulsava um coração inquieto e generoso. Foi o que destacaram os bispos do Brasil na carta que, em 1897 – 3º centenário do falecimento de Anchieta -, escreveram ao papa Leão XIII: “Entre aqueles que a divina bondade se dignou enviar para plantar, cultivar e propagar a religião entre os povos do Brasil, está, em primeiro lugar, sem dúvida, o Venerável Padre José de Anchieta, da Companhia de Jesus, que resplandeceu pelo ardor de seu amor para com Deus, pela pureza angélica de sua alma e pela prática heroica de todas as virtudes. Tão eficaz foi o seu zelo pela salvação das almas, chamando à fé os indígenas, mantendo e promovendo a piedade entre os cristãos, que merece ser comparado ao grande [Francisco] Xavier. (…) A memória de suas virtudes e preclaras ações se conservam sempre vivas na história das regiões [em que viveu] e na tradição dos povos, de tal maneira que nem depois de três séculos, nem uma série tão variada de acontecimentos  pode apagar e ofuscar. Por isso, suplicamos, Santíssimo Pai, pelo afeto que sempre mostrastes por esta parte do rebanho de Cristo, que vos digneis promover com a força de Vossa autoridade apostólica a causa da beatificação do Venerável Padre José de Anchieta”.
A canonização de Anchieta é uma responsabilidade. No dia 20 de outubro de 1991, na celebração eucarística que presidiu em Salvador, o Papa João Paulo II fez uma referência a ele: “Evocando a epopeia missionária da primeira evangelização neste solo generoso e sob o céu da Bahia, não posso deixar de pronunciar um nome que é todo um programa: o do Padre José de Anchieta, merecidamente cognominado ‘o Apóstolo do Brasil’. Tendo entrado na Companhia de Jesus e vindo pouco mais que adolescente à Terra de Santa Cruz, aqui viveu vida santa e apostolar, toda dedicada à educação humana e cristã dos índios em meio a sofrimentos e tribulações de toda ordem. Como Superior da Companhia, passou [dez] anos de sua existência nesta cidade do Salvador…”
Somos herdeiros do entusiasmo apostólico de Anchieta. Seu exemplo deve iluminar nossa ação pastoral. Seu amor a Jesus deve encher nosso coração de uma grande paixão por Ele. Sua dedicação diária deve ser um estímulo para também nós renovarmos nossa entrega total ao Reino de Deus.
Agradeçamos, pois, ao Senhor, a graça dessa canonização. São José de Anchieta é o primeiro santo que esteve em Salvador. Depois dele, tivemos a alegria de acolher a Bem-aventurada Lindalva, a Bem-aventurada Teresa de Calcutá, a Bem-aventurada Dulce dos Pobres e o Bem-aventurado João Paulo II. Nós, que moramos nesta cidade, nesta Arquidiocese e nesta Bahia, não temos desculpas para não ser santos…

Dom Murilo S.R. Krieger, scj

Arcebispo de São Salvador da Bahia, Primaz do Brasil

LITURGIA DIÁRIA