Foi o próprio Jesus Cristo, sumo e eterno sacerdote dos bens prometidos, que instituiu por sua livre e soberana vontade onipotente o sacerdócio ministerial para que no decorrer dos séculos, a sua função sacerdotal se perpetuasse na sua Igreja.
O Sacerdócio é pois tão divino quanto aquele que está na sua origem, sendo a fonte da qual ele dimana.
Ao contrário do que costumam pensar pessoas mal informadas, para as quais o sacerdócio constituí uma carreira ascensional dentro da hierarquia eclesiástica, ou o que é pior, uma espécie de status eclesiástico, o sacerdócio é antes de tudo um serviço a ser prestado por amor em favor dos homens, para o bem dos quais o Divino Redentor dignou-se instituí-lo.
O sacerdote, segundo o autor da Carta aos Hebreus, é um homem tirado do meio do povo, e constituído em favor do povo naquelas coisas que concernem a Deus. É um mediador, a quem compete não apenas oferecer dons e sacrifícios pelos pecados, mas também pregar em nome daquele que representa, condenar vícios, exortar a prática de uma vida reta e santa, interpretar a lei divina, orar pela eterna salvação do povo, portador que é de poderes que lhe foram comunicados e de uma autoridade tanto maior que a humana quanto é certo que as “coisas espirituais, que são eternas, superam as temporais, que são caducas.”
Já no Antigo Testamento, a dignidade sacerdotal revela-se na escolha de uma tribo – a de Levi – por parte do próprio Deus, destinada a servir diretamente ao todo-poderoso mediante o exercício das funções sacerdotais. Deus disse que a herança dos descendentes de Levi, não seria como no caso das outras tribos porções de terra, senão ele mesmo, indicando assim que à estirpe sacerdotal caberia um galardão divino.
No Novo Testamento, o sacerdócio é uma participação direta no único e eterno sacerdócio do Senhor Jesus Cristo. Os padres da Igreja consideravam o sacerdote como outro Cristo e na linguagem da Sacra Teologia, diz-se que o sacerdote age na “pessoa de Cristo cabeça.”
Os sacerdotes da nova aliança são os enviados a toda terra para pregar o Evangelho de salvação, e administrar os sacramentos, canais divinos pelos quais nos chega a graça santificante.
No cenáculo, onde celebrou a primeira Missa com seus apóstolos, dando-se a si mesmo nas espécies do pão e do vinho, o Cristo Senhor ordenou-lhes que repetissem o que ele mesmo fizera: fazei isto em memória de mim. Naquela noite única, o Divino Redentor, instituiu o sacerdócio, que até hoje é exercido por seus ministros legítima e validamente ordenados.
Mas que distância entre o sacerdócio antigo e o novo! Os antigos sacerdotes ofereciam vítimas irracionais, os de hoje oferecem a vítima divina e sacrossanta que outrora se ofereceu no altar da cruz, os antigos não tinham poder para perdoas pecados, mas aos novos foi dito: “Recebei o Espírito Santo. Os pecados que perdoardes serão perdoados, e os que retiverdes, serão retidos.”
A grandeza do sacerdócio é tal, que os maiores santos julgaram-se indignos de o receber, chegando uns ao extremo de fugirem para evitar a sagrada ordenação, se bem que no final das contas acabaram cedendo: assim aconteceu com São Gregório Magno e São João Crisóstomo. É deste último a seguinte frase: “A alma do sacerdote deve ser mais clara do que o sol.”
Contudo, tal tesouro, como dissera São Paulo, nós o trazemos em vasos de argila. De fato, o sacerdote é homem, e não anjo, razão pela qual pode cair.
Houve e há sacerdotes sábios, zelosos, abnegados, virtuosos e que se empenham incansavelmente na árdua tarefa que lhes compete exercer.
O sacerdócio, dizia São João Crisóstomo, sendo embora exercido na terra, pertence as coisas do céu.
Grande é a dignidade daquele cujos lábios pronunciam as palavras ditas pelo homem Deus há mais de dois mil anos, mediante as quais, o pão torna-se o verdadeiro corpo do mesmo Cristo e o vinho o seu sangue; grande é a dignidade daquele que ao pronunciar as palavras da absolvição sacramental, reconcilia o pecador com Deus restituindo-lhe a vida da graça que o pecado destruira.
Não obstante a fragilidade humana do sacerdote, a dignidade não é prejudicada nem diminuída. Ainda que seja péssimo o sacerdote, o sacerdócio há de ser sempre uma dádiva incomparável. O sacerdote pode manchar-se, o sacerdócio não, o sacerdote pode perverter-se, o sacerdócio nunca, o sacerdote pode descer a lama enquanto homem, mas o sacerdócio há de pairar sempre imaculado acima das misérias pessoais de quantos o exerçam.
Dom Samuel Dantas de Araújo – OSB