​É triste constatar que, ultimamente, a violência tem feito parte de nosso cotidiano. Sem perceber, a cada dia nos perguntamos quais os últimos fatos violentos que aconteceram. A resposta é imediata: ora são cenas de uma matança em Paris, ora as de um homem-bomba, que causa destruição e morte num país africano. Acidentes e brigas no trânsito só se tornam notícia quando envolvem um elevado número de pessoas. Nos lares, multiplicam-se sinais de morte. Encontros de família, que deveriam ser momentos de descontração, afeto e alegria, tornam-se fonte de tristeza e dor. (Não posso deixar de mencionar o que ouvi em um dos mais importantes hospitais de Salvador: um dos dias de maior movimento e de procedimentos complexos é a Sexta-feira Santa, pelo número de pessoas esfaqueadas que ali chegam – esfaqueadas em almoços familiares. Que sentimentos há no coração de uma pessoa que vai para um almoço de sua família com uma faca escondida?…)
​O que há por trás da violência? A fé nos ensina que, a partir do pecado humano, há uma luta permanente em nosso coração – uma luta entre o “espírito” e a “carne”. Sentimos em nós uma atração pelo bem, mas acabamos fazendo o mal. Buscamos a unidade interna e, ao mesmo tempo, percebemos a dificuldade de nos manter equilibrados. O apóstolo Paulo registrou esse drama: “Não faço o bem que quero, mas faço o mal que não quero” (Rm 7,19). A inclinação para o mal no coração humano é consequência do pecado original. Em razão dessa certeza de fé, a Igreja ministra o Batismo, para a remissão dos pecados mesmo às crianças que não cometeram pecado pessoal (cf. CIC, 403). A natureza humana não está totalmente corrompida; está, sim, propensa ao mal e precisa da graça divina para enfrentar o mal e vencê-lo com o bem.
O que há por trás da violência? Há, normalmente, a falta de valores e a inexistência de ideais pelos quais vale a pena viver e lutar. Uma sociedade que exalta e cultiva a violência (ou não é isso que fazem inúmeros filmes?…) gera pessoas violentas. Uma sociedade que não defende e não apoia a família gera pessoas desestruturadas. Uma sociedade que coloca o bem-estar individual como valor máximo gera pessoas egoístas. Uma sociedade em que muitos vivem na miséria e na insegurança quanto à moradia, emprego, alimentação, saúde e educação gera pessoas insatisfeitas. É difícil imaginar do que são capazes pessoas insatisfeitas quando, além disso, não se guiam por valores.
Há, ainda, a violência fruto do fanatismo religioso. Fanático é aquela pessoa ignorante que se entusiasma por uma causa, que pode ser religiosa. Fanáticos (ou fundamentalistas) agem facilmente, a partir do ódio contra quem não pensa como eles. Ora, nosso Deus é o Deus da paz. Ele é o primeiro a respeitar a liberdade de seus filhos – liberdade, inclusive, de alguém não o aceitar e não o amar.
​Não se resolve o problema da violência somente com a força policial. A segurança pública é necessária para garantir a paz social, mas não há país no mundo que seja capaz de garantir a segurança de todos os cidadãos apenas com a multiplicação de policiais.
​Grandes passos da humanidade foram dados em momentos difíceis. Encontramo-nos em um desses momentos. Se quisermos fazer alguma coisa para que cesse a deterioração do tecido social, precisamos nos unir em torno de valores – por exemplo: de amor, justiça, solidariedade, paz, bondade, perdão etc. É preciso reconhecer que nem sempre tais valores são fáceis de serem assumidos e vividos. O certo, porém, é que eles respondem às inquietações mais profundas que o próprio Deus colocou no coração de Seus filhos e filhas – no seu, inclusive.

LITURGIA DIÁRIA