Um pouco antes de seu avião pousar no aeroporto do Galeão, nesta segunda-feira, Papa Francisco, o caro irmão terá a oportunidade de ver, do alto, uma das mais belas paisagens do mundo, formada pela Baía de Guanabara, o Pão de Açúcar e o Cristo Redentor. Preste atenção: de braços abertos, será ele que o acolherá nesta Terra de Santa Cruz. Se pudesse visitar outras regiões de nosso país, poderia fazer, igualmente, experiências únicas. Penso, por exemplo, em Florianópolis, tão visitada anualmente por seus conterrâneos; penso em Salvador, cuja Baía de Todos os Santos nos apresenta cada dia novos aspectos de sua beleza. Contudo, caro Papa, não estarei exagerando ao dizer que a principal riqueza desta terra é a sua gente. Tendo eu mesmo vivido em diversas partes do Brasil, não é fácil definir os brasileiros, tão diferentes conforme a região de sua procedência, tão semelhantes nos valores que os estrangeiros destacam em nós: a cordialidade e a hospitalidade, a alegria e uma capacidade incrível de olhar tudo com um certo humor, quando não com fina ironia.

É verdade que estamos vivendo semanas especiais. Parece que o Brasil está-se redescobrindo. Percebeu-se, de repente, que havia uma indignação contida no coração de muitos – indignação diante de injustiças quase estruturais, de comportamentos reprováveis de alguns de seus representantes, de uma vida de muito trabalho e impostos sem a correspondente qualidade de vida. Não quero idealizar tais manifestações: vossa santidade sabe que, em momentos assim, é comum aparecem os oportunistas, os anarquistas e aqueles que nem sabem por que estão revoltados contra tudo e todos; acham, apenas, que pela violência conseguirão consertar o mundo. Pobre ilusão!

Sei, Papa Francisco, que o problema principal não só dos brasileiros, mas de toda pessoa, é aquilo que Santo Agostinho resumiu com palavras que se tornaram clássicas: “Criaste-nos para ti, Senhor, e inquieto está o nosso coração enquanto não repousa em ti”. Sim, há uma fome de absoluto que invade o coração do ser humano, particularmente neste momento da História. Os avanços técnicos parecem ser infinitos, os meios de comunicação aproximam pessoas distantes, a medicina anuncia diariamente novas descobertas e o bem-estar, que está ao alcance de (infelizmente, só) alguns, faz a humanidade olhar com um ar de superioridade para as gerações anteriores. O coração humano, contudo, continua o mesmo: inquieto e insatisfeito. Quem mais sente isso são os nossos jovens, Papa Francisco. Na tentativa de saciar sua sede de felicidade, muitos se afogam na droga, no sexo e numa contínua busca de satisfações sensoriais. Acham que, assim, poderão “abraçar” a felicidade e retê-la para si, definitivamente. Diante de seus contemporâneos, que tinham desejos idênticos a esses, nosso Mestre, com coragem, mesmo sabendo que não agradaria a muitos, dizia: “Entrai pela porta estreita! Pois larga é a porta e espaçoso o caminho que leva à perdição, e são muitos os que entram! Como é estreita a porta e apertado o caminho que leva à vida, e poucos são os que o encontram!” (Mt 7,13-14)

Caro irmão, venha transmitir a nossos jovens palavras de esperança! Venha lembrá-los de que seus ideais de justiça e fraternidade, de paz e amor, são justos e consistentes. Venha ensinar-lhes que “o caminho que leva à vida” tem um nome e um rosto: o de Jesus de Nazaré, nosso Salvador. Venha confidenciar-lhes que, para que a vida não transcorra inutilmente, só há uma e única via de felicidade. Eles precisam – na verdade, todos nós precisamos – aprender que sua vida é uma só, é única e, por isso, não pode ser desperdiçada. Enfim, procure mostrar-lhes, Papa Francisco, que, justamente porque são jovens, eles são o “hoje” da Igreja e da humanidade. Eles precisam se convencer de que a Igreja precisa deles para apresentar ao mundo o rosto de Jesus Cristo. Descobrindo que a vida é um dom e uma tarefa, nossos jovens viverão com entusiasmo, com alegria e, sobretudo, com responsabilidade.

Dom Murilo S.R. Krieger, scj

Arcebispo de São Salvador da Bahia – Primaz do Brasil

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