O tráfico humano é um dos problemas sociais que preocupa a Igreja. Em vista de promover a discussão, conscientizar os fiéis e colaborar no enfrentamento do crime, a Campanha da Fraternidade de 2014 traz o tema Fraternidade e Tráfico Humano neste ano. A Dra. Regina Machado é advogada criminalista e membro da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Tráfico Humano da Assembleia Legislativa do Estado da Bahia. Em 26 anos atuando na área criminal, ela se dedica exclusivamente a casos específicos de tráfico de pessoas. A sua atividade profissional consiste em promover discussões que conscientizem a população sobre os riscos e perigos, bem como investigar e enfrentar o crime. Entenda melhor a atuação da CPI e esclareça questões importantes sobre o tema, na reportagem exclusiva abaixo.
Felipe Fonseca –Como tem sido a preocupação e atuação da CPI do Tráfico Humano?
Dra. Regina Machado – A maior preocupação é investigar casos que já houve denuncias no ministério publico ou que de alguma forma chegaram ao judiciário e não foram a lugar nenhum, principalmente aqueles que iniciaram a investigação e não teve andamento. O papel da CPI é saber por que não foi adiante e a razão que levou aos profissionais que captaram o caso não continuar o trabalho.
CNBB NE3 – Quais os principais fatores que tornam o tráfico humano o terceiro que mais movimenta dinheiro oriundo de tráfico no Brasil, perdendo somente para as drogas e armas?
Dra. Regina Machado – Ele tem um facilitador de ser um crime silencioso. É semelhante a droga e a arma, não é um crime visível. E isso o torna um dos mais rentáveis do mundo. Mas ele já está em declínio. As políticas públicas feitas em âmbito mundial têm colaborado na redução destas estatísticas e na erradicação do trafico.
CNBB NE3 – Quais as políticas públicas estão sendo postas em pratica atualmente na Bahia?
Dra. Regina Machado – Infelizmente as políticas publicas apresentadas em nosso estado não são eficientes. São políticas didáticas, de longo raciocínio, e pouco focadas na vitima. Tem preocupação maior no traficante, que está resguardado no seu país, do que no amparo à vitima. As políticas, através de inquérito, processo, abrigo e recolocação profissional, ainda deixam a desejar.
CNBB NE3 – A busca por melhores oportunidades profissionais no exterior é um fator que colabora para o crescimento do tráfico?
Dra. Regina Machado – Não é uma condição. A internet, através das redes sociais vem com maior ênfase demonstrando possibilidades. Não somente de emprego, mas de passeios, namoros, casamentos e trabalho. E isso acaba favorecendo o aliciador, que está em meio a todo esse contexto e acaba desviando para o tráfico, tornando a pessoa uma vítima.
CNBB NE3 – Como a sociedade pode colaborar para a redução dos índices deste crime?
Dra. Regina Machado – Se informando, e conscientizando o seu mais próximo. É uma rede de multiplicadores. Eu luto para desenvolver uma rede social em prol da informação sobre o tráfico de pessoas.
CNBB NE3 – A Igreja Católica propôs na Campanha da Fraternidade de 2014 a reflexão sobre o tema “Fraternidade e Tráfico Humano”. Qual a importância de se discutir sobre este assunto na Igreja e como essa campanha pode colaborar com o enfrentamento do crime?
Dra. Regina Machado – A importância é total. É uma campanha de âmbito mundial, que abrange a religião, que é algo que supera qualquer núcleo diferenciado. O avanço da Igreja em direção ao enfrentamento deste delito é de máxima importância, e isso com certeza vai multiplicar a informação e consequentemente reduzir o tráfico humano.