Salvador – Bahia, 04 de setembro de 2023

“E o efeito da justiça será paz, e o fruto da justiça

 será repouso e segurança para sempre”.

 (Isaias 32,17)

Unimo-nos às manifestações de Dom Beto Breis, OFM, bispo de Juazeiro e Presidente de nosso Regional, para expressar apoio e solidariedade à comunidade tradicional de Fecho de Pasto, de Angico dos Dias, em Campo Alegre de Lourdes, que vem sofrendo pela onda de conflitos causados pela ação de mineradora e de grilagem em seu território. No último sábado (02), tais ações culminaram em um atentado com arma de fogo que feriu três pessoas, entre elas, um agente da CPT – Comissão Pastoral da Terra da Diocese de Juazeiro, BA.

É alarmante a realidade da violência no campo, no estado da Bahia. Segundo os dados do “Caderno de Conflitos no Campo Brasil – 2022”, publicado pela CPT, o estado é o segundo em maior número de conflitos, totalizando 179 ocorrências, sendo as Comunidades Tradicionais de Fundo e Fechos de Pasto as principais vítimas, seguido dos Quilombolas e dos Povos Indígenas.

Foram registrados, na Bahia, em 2022, 56 casos de violência contra a pessoa – ameaças, agressões, tentativas de assassinatos e assassinatos -, dentre estes o assassinato de três pessoas, sendo um indígena e dois sem-terra. Segundo os dados, os principais causadores destas violências são empresários, mineradoras, fazendeiros, grileiros e o Estado.

Neste ano de 2023, a violência no campo segue em ascensão. Há poucos dias, em 17 de agosto, ela fez mais uma vítima, ceifando a vida de Mãe Bernadete Pacífico, ialorixá e líder do Quilombo Pitanga dos Palmares, com 20 tiros, na frente dos netos, em Simões Filho, seis anos depois do assassinato de seu filho Fabio Gabriel, conhecido por Binho. Nos últimos seis anos, já foram assassinados 11 quilombolas na Bahia.

Diante desta grave realidade, nos dirigimos às autoridades constituídas, exigindo medidas urgentes a fim de garantir o Direito sagrado e inalienável dos povos e comunidades tradicionais de viverem em seus territórios. Medidas que façam prevalecer a justiça, com a devida apuração dos fatos e punição dos mandantes e culpados por todos estes crimes.

Que o Deus da vida continue nos concedendo a graça de lutar por justiça e anunciar um tempo novo em nossa casa comum, na qual somos todos irmãos e irmãs.

Dom Vicente de Paula Ferreira

Presidente da Comissão Episcopal para Ação Sociotrasformadora do Regional Nordeste3

LITURGIA DIÁRIA