Há dois momentos insubstituíveis na fé dos Cristãos: o nascimento de uma criança, numa gruta, onde Deus colocou a sua tenda no meio dos homens; e a morte de um homem justo, enviado por Deus, Filho de Deus, que ressuscitou salvando toda a humanidade…
No primeiro momento, anjos anunciam aos pastores da redondeza, envolvidos de LUZ, que Deu enviou este   menino para salvar o seu povo, proclamando “Glória a Deus e PAZ na terra aos homens que Ele ama” (Luc 2,14).
E, no segundo momento, após a aparente tragédia e do fim de um sonho maravilhoso, Jesus volta vivo e, ao visitar seus amigos sofridos e desanimados, diz: “A PAZ esteja convosco” (Luc  24,36).
Nós, então, como seguidores do Jesus de Belém e de Jerusalém, devemos também viver e compartilhar esta PAZ …
Sabemos que não pode existir PAZ sem JUSTIÇA.
Trabalhando, lutando, sofrendo para que haja justiça, ou menos injustiça, no nosso mundo.
Quando queremos dar um “lugar ao sol” aos esquecidos, marginalizados, aflitos, estamos construindo a PAZ.
Quando reconhecemos em cada homem e em cada mulher o rosto de Cristo, descobrimos que este rosto é muitas vezes desfigurado e que seu olhar é sem brilho, nem esperança, mas nós juntos podemos fazer alguma coisa para que se encontre, acredite nele e se some na luta por seus direitos de homem, de mulher, de criança, de ser humano.
E eu nisto tudo?
Nasci na Itália e desde jovem ouvi dentro de mim o desejo de servir a Deus e ao meu próximo.
Logo após terminar os estudos secundáristas, entrei numa Associação de Missionárias Leigas, AFI (hoje: Associação de Fraternidade Internacional), na Bélgica.
Após anos de estudo de Formação Teológica e do Curso Universitário da Faculdade de Economia, desenvolvi atividades de acolhimento a estudantes e profissionais estrangeiros, de vários  países, que vinham se especializar na cidade de Milão (Itália).
Finalmente, fui designada para vir trabalhar no Brasil, em Aracaju, para integrar a Equipe de AFI que tinha sido convidada por Dom José Vicente Távora.
Minha alegria foi grande!
Poderia colocar a serviço dos irmãos meus conhecimentos e meus sonhos de juventude: colaborar no fortalecimento dos direitos humanos.
Trabalhei inicialmente na Pastoral de Conjunto, tentando concretizar as orientações do Concílio Vaticano II, e participei durante 20 anos do Projeto de Reforma Agraria, da Arquidiocese de Aracaju, idealizado por Dom Luciano José Cabral Duarte, a “Promoção do Homem do Campo de Sergipe” (PRHOCASE). Esta foi uma experiência humana e social, realmente inesquecível.
Fui convidada, então, a trabalhar com as Pastorais Sociais que estavam surgindo ou se afirmando aos poucos. Conseguimos, então, formar uma Equipe de Coordenação Arquidiocesana, com os representantes de todas estas Pastorais, que cresceram e se fortaleceram rapidamente, através da formação espiritual e pastoral, assim como da ação em conjunto.
Foi ao chegar de Dom José Palmeira Lessa, que fui colocada em contato com a Cáritas Brasileira.
Novas descobertas, novos métodos, novas experiências …
Trabalhamos com Projetos em áreas rurais e urbanas, com adultos, crianças e jovens, com mulheres, pessoas da terceira idade e portadora de deficiências. Começamos a Casa de Apoio “O Bom Samaritano” para portadores do Vírus HIV ou doentes de Aids, ao longo de 16 anos.
Colaboramos, enquanto Cáritas Arquidiocesana de Aracaju, na instalação do Fome Zero no Estado de Sergipe, qual entidade âncora, durante os seus seis primeiros meses de existência.
Começamos a realizar com as entidades da sociedade civil organizada e diversos grupos religiosos e comunitários o Grito dos Excluídos, as Semanas Sociais no Estado de Sergipe, os diversos Plebiscitos, especialmente aqueles sobre a Dívida Externa e a Alca.
Mas teve dois trabalhos, interligados entre eles, que ocuparam minhas atenções e os momentos mais apaixonantes da minha vida, nestes longos anos: a Escola João XXIII e o Centro Educacional Bem Me Quer. O primeiro com as “meninas” que, na época, viviam na prostituição e o segundo que, inicialmente, atendia aos filhos destas sofridas mulheres.
Foi aí, que fiz a experiência que nossos trabalhos da Cáritas, das Pastorais Sociais, da Igreja podem salvar vidas, podem transmitir LUZ e fazer encontrar este” lugar ao sol”, ao qual todos nós temos direito por nascimento.
A PAZ é fruto da Justiça, do Amor, da Caridade Verdadeira e da Solidariedade …
Ao aproximar-se o Natal, lembramos que a LUZ que vem do alto e chega até nós é o próprio Cristo Senhor, iluminando nossas vidas, transformando-nos em irmãos e irmãs de todos, mas especialmente daqueles mais necessitados de amor, que sofrem toda forma de violência, de segregação, de preconceito.
O nosso querido Papa Francisco vem convocar, mais uma vez, toda a Igreja para aprofundar a cultura da PAZ, lembrando que Jesus é a LUZ que não se apaga.
O convite da Campanha Dez Milhões de Estrelas só alcançará seu sentido se conseguirmos acender velas na Vida das pessoas que mais precisam de LUZ e de PAZ…
Que a PAZ do Menino de Belém e do Ressuscitado de Jerusalém possa nos invadir de LUZ neste Natal.

Aracaju, 01 de setembro de 2020.

ENRICA MININNI

LITURGIA DIÁRIA