Artigo

Dom Murilo S.R. Krieger, scj

Arcebispo de São Salvador da Bahia, Primaz do Brasil

No dia 11 de outubro de 2012, foi aberto, pelo Papa Bento XVI, o Ano da Fé, que se prolongará até o dia 24 de novembro de 2013. Ao longo desse Ano, somos convidados a nos unir ao sucessor de Pedro, a fim de comemorar o dom precioso da fé e, assim, buscar, com renovada disposição, a santidade. Para alcançarmos a graça da pureza do coração, é muito útil “o grande dom das Indulgências que a Igreja, em virtude do poder que lhe foi conferido por Cristo, oferece a todos os que, com as devidas disposições, cumprirem as prescrições especiais para obtê-las” (Decreto da Penitenciaria Apostólica, 14.09.12).

Para alguns, o tema das Indulgências é um tanto difícil de ser entendido, além de lhes trazer lembranças nada agradáveis, desde que, na Idade Média, fez-se um verdadeiro comércio em torno delas, um triste e desagradável comércio. Para a Igreja, no entanto, as indulgências se constituem em um dom, em um benefício, em uma graça que está à disposição dos fiéis. O Catecismo da Igreja Católica trata dessa questão no capítulo dedicado ao sacramento da Penitência, mesmo porque a doutrina e a prática das indulgências estão estreitamente ligadas aos efeitos desse sacramento (cf. nn. 1471-1479 e 1498). Já o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica dedica um número para apresentá-las: “As indulgências são a remissão diante de Deus da pena temporal merecida pelos pecados, já perdoados quanto à culpa, que o fiel, em determinadas condições, adquire para si mesmo ou para os defuntos, mediante o ministério da Igreja, a qual, como dispensadora da redenção, distribui o tesouro dos méritos de Cristo e dos Santos” (n. 312).

Quando se trata das indulgências é preciso que fiquem claras quatro coisas:

1ª) As indulgências não consistem no perdão dos pecados. Esse perdão é dado por Deus por meio da absolvição, no sacramento da Reconciliação;

2ª) Recebido o perdão dos pecados, permanece ainda a pena temporal, como conseqüência da culpa. Para melhor entender o que isso significa, tome-se o exemplo banal, mas expressivo, do prego na parede. Tirado o prego, permanece o buraco que deve ser fechado para que a parede fique perfeita novamente. Quando nos confessamos, se tivermos por Deus um amor sem reservas e estivermos dispostos a uma conversão radical, juntamente com o perdão dos pecados recebemos o perdão da pena. Caso contrário, permanecem em nós as escórias do nosso egoísmo, da nossa preguiça espiritual; são as zonas de sombra e de imperfeição no nosso amor a Deus; é o nosso amor imperfeito, não radical. Fica, então, a necessidade de uma reparação por nossos pecados. A indulgência nos dá o perdão dessa pena, dessa reparação que teríamos que fazer;

3ª) Para se obter uma indulgência são necessárias algumas condições habituais: a confissão sacramental, a comunhão eucarística e uma oração nas intenções do Papa;

4ª) A indulgência não é uma remissão passiva ou automática de nossas penas. Exige, como condição indispensável para se obtê-la, uma autêntica conversão do coração e da vida, a disposição de amar a Deus de todo o coração e o generoso propósito de fazer o bem ao próximo e de evitar todo e qualquer pecado.

Como se vê, as indulgências estão longe de ser um incentivo à mediocridade espiritual; são, antes, um estímulo para buscarmos a santidade.

LITURGIA DIÁRIA