Através da beleza que parte do fundamento Cristológico da Igreja é possível se encantar com ela, e compreender a importância de cada tempo litúrgico que somos convidados a vivenciar. Observo que a atitude dela leva-nos sempre ao encontro com o próprio Cristo. Quando olhamos com a sabedoria, dom do próprio Espírito, percebemos a ação de Deus em nosso meio, através dos seus. Com isso, tratarei neste artigo, sobre a experiência da quaresma em nossas vidas, partindo do pressuposto de ser um tempo litúrgico de importante preparação, e assim podemos dizer: um tempo propício ao encontro – consigo mesmo e com o Outrona plenitude evangélica.
Os tempos litúrgicos são formas de revelação da sabedoria de Deus para com seu povo e em cada um percebemos uma essência nova, uma característica diferente. Como cristãos católicos, precisamos e devemos vivenciar cada tempo como se fosse o último em nossas vidas. Às vezes, intrigo-me como não valorizamos os tempos litúrgicos e não conseguimos vivenciá-los com intensidade. Terminamos caindo na rotina das nossas próprias realidades e esquecemos o quanto Deus age em nós e nos convida pessoalmente a fazer um encontro com Ele.
Sendo assim, partilho com cada um, o sentimento desse novo tempo que iniciamos: a Quaresma. Para nós ela deve se tornar um período propício a reflexão, ao deserto,onde o deserto é o lugar do encontro e intimidade. Mas também o lugar de simplicidade, tentação e libertação. Foi no deserto que Israel escutou a voz de Deus e se tornou “um reino sacerdotal e um povo santo” (Ex 19, 5-6); no deserto que Deus conduz de novo sua esposa infiel para falar ao seu coração (Os 2, 16); no deserto que o Espírito de Deus conduziu Jesus, para ser tentado pelo diabo (Mt 4, 1; Mc 1, 12).
Quando olhamos o significado da palavra ‘reflexão’ no dicionário, ele nos apresenta como uma ‘análise mental sobre si mesmo, um autoexame’, assim o tempo da Quaresma é este tempo de olhar para nós mesmos, mas de forma diferente. Olhar para nós, não como um intimista ou egocêntrico, pois ao nos olharmos desta forma, só iremos encontrar fragilidades. Podemos até encontrar potencialidades, mas elas estarão sensíveis, sem sustento e fundamento. Pois bem, assim devemos fazer um caminho que muitas vezes é doloroso, observando que o próprio Cristo teve seu momento de “quaresma”, quando é levado pelo Espirito para jejuar, e ali ser tentado pelo demônio. “Então Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo, por quarenta dias e quarenta noites esteve jejuando. Depois teve fome” (Mt 4, 1-2).
Assim, somos convidados também a sermos levados para o deserto, para sermos tentados: tentados por nossas fragilidades. No decorrer do período vamos perceber que as tentações que o demônio faz a Jesus são puramente da carne, e nós também somos tentados dessa forma. É quando sentimos fome, que somos tentados; é quando temos possibilidades de ter o poder, que somos tentados. Observemos a grandeza que Jesus nos ensina. Precisamos lutar não somente com nossas forças, mas com as forças d’Ele, e assim renunciar, e estando fortalecidos, dizer não à tentação, confiando na palavra que diz que “tudo que pedirdes com fé na oração, vós alcançareis”( Mt 21, 22). Poderemos sofrer, mas se persistirmos no Senhor, em sua confiança, seremos livres. Nos encontraremos a partir de Cristo, com os olhos D’ele. Nos enxergaremos verdadeiramente Cristãos, pois nos sentiremos olhados por Ele e só conseguiremos isso permanecendo firmes na oração que é, para nós, um sustento.
É na oração que entraremos em diálogo pleno com Deus, e assim ela se tornará a nossa “luz da alma. E é por ela que nossa alma se elevará até aos céus para se unir ao Senhor num abraço inefável; como uma criança que, chorando chama sua mãe.[1]” Foi o próprio Jesus que nos pediu e ensinou a rezar para que não caíssemos em tentação. Isso podemos conferir em seus evangelhos, nos quais Jesus não tomava nenhuma decisão sem a prática da oração. Ele sempre se confiou ao Pai, e conosco não pode ser diferente. Que tenhamos todos uma Santa Quaresma, cheia de reflexões e encontros, e que estes nos levem a uma mudança radical em nossas vidas. Que os nossos desertos sejam frutuosos, e que possamos sair deles fortalecidos no Senhor.
Evanilson Lima
Seminarista da Arquidiocese de São Salvador