No dia 25 de outubro de 1980 – portanto, 35 anos atrás –, a “Congregação para os Bispos”, um dos órgãos da Santa Sé, por mandato do Papa São João Paulo II enviou um Decreto ao então Arcebispo Metropolitano da Arquidiocese de São Salvador da Bahia, o Cardeal Avelar Brandão Vilela. Esse Decreto reconhecia nossa Arquidiocese como “Sede Primacial” do Brasil e seu Arcebispo, como “Primaz”. Já no início do texto estava clara a razão desse reconhecimento: “Os Romanos Pontífices tiveram sempre a preocupação de que as Cidades, famosas pela dignidade, e os Varões, ilustres pelo zelo das almas e pela obediente reverência, fossem ornados com dignas honras e agraciados com merecidos privilégios. Isto não só constitui prêmio aos que o merecem, mas incita o Pastor, o clero e o povo a se empenharem em ter sempre melhores carismas (…) Todos sabem que a mencionada Igreja, erigida no ano de 1551, segundo os documentos históricos, até o ano de 1667 era a única diocese e, depois, até o ano de 1892, a única Sé Metropolitana no Brasil. Não se pode, pois, duvidar de que todas as circunscrições eclesiásticas agora existentes no território brasileiro procedem, como filhas da mesma mãe, da Igreja Catedral de São Salvador no Brasil… Por isso, Sua Santidade, (…) com o presente Decreto da Sagrada Congregação para os Bispos, válido de agora em diante como se fosse uma Carta Apostólica sob lacre, decidiu honrar perpetuamente a Igreja Metropolitana de São Salvador no Brasil com o título, somente para honra, de SEDE PRIMACIAL de todas as Igrejas de toda a Nação Brasileira, e o seu Antístite, somente para honra, com o título de PRIMAZ.”
A Arquidiocese de São Salvador da Bahia tem, pois, um privilégio e uma responsabilidade, em relação às demais dioceses brasileiras. O privilégio: desde 7 de janeiro de 1549, por uma Carta Régia de D. João III, rei de Portugal, “São Salvador” havia sido escolhida como sede da Governância Geral do Brasil. Pouco depois, em 29 de março do mesmo ano, Tomé de Souza chegou à Bahia e foi fundada esta cidade, tornando-se a primeira capital brasileira.  Em 1551, o Brasil deixou de pertencer à Diocese de Funchal – Ilha da Madeira, e se tornou Diocese, tendo em vista a grande distância que separava estas terras de sua sede episcopal e a necessidade de um Bispo “para… confirmar os que se voltam à fé cristã” (Bula de criação da Diocese). Portanto, a partir daí, todo o Brasil pertencia a uma única Diocese, e sua sede – São Salvador da Bahia de Todos os Santos– , “onde existe uma igreja maior, entre outras, sob a invocação do mesmo São Salvador, em cujo recinto se celebram missas e outros ofícios divinos, bem como se administram os Santos Sacramentos,  está fadada a ser notável, quer pela fertilidade dos campos, quer pela benignidade do clima, existência de povo e de grande comércio” (idem).
Ficou para nós a responsabilidade de trabalhar “para o louvor de Deus onipotente e honra do próprio São Salvador, glória de toda a Igreja” (ib.). Trata-se de um trabalho que está sempre começando e que precisa ser fundamentado no passado desta Igreja Particular – passado que pode nos ajudar a viver intensamente o presente, dando-nos, assim, condições de construir o futuro.
Lembro aqui que esta Arquidiocese foi oficialmente reconhecida como Sede Primacial para expressar minha gratidão a todos aqueles – bispos, presbíteros, diáconos, religiosos e religiosas, cristãos leigos e cristãs leigas – que nos antecederam. Ser evangelizado é um direito de cada pessoa, pois o sangue de Cristo foi derramado por todos. Evangelizar é a razão de ser da Igreja; portanto, uma obrigação permanente de todos nós.
Dom Murilo S.R. Krieger, scj
Arcebispo de São Salvador da Bahia e Primaz do Brasil

LITURGIA DIÁRIA